Sergio Pardal Freudenthal é advogado e professor universitário, especialista em Direito Previdenciário, atua há mais de três décadas em Sindicatos de Trabalhadores na Baixada Santista.

INSS anuncia que cumprirá, restritivamente, ordens judiciais

Só no Brasil uma instituição pública anuncia, como se fosse honra e glória, o cumprimento automático de ordens judiciais para implantação de benefício assistencial de um salário mínimo.

O INSS informou – como algo fantástico – que implantará automaticamente os benefícios assistenciais, para inválidos e idosos em condições de miséria, concedidos pela Justiça. Ora, ordens judiciais têm prazo para serem cumpridas, valendo até penalidades para as irresponsabilidades de autoridades. Lembrando que a concessão judicial pressupõe que, a princípio e equivocadamente, o réu recusou.

A confusão do INSS no cumprimento de ordens judiciais é bem antiga. Eram muitos os casos de auxílio-doença concedido por ordem do juiz, dispondo a duração “no mínimo por seis meses”, ficando a perícia a partir daí sob responsabilidade do condenado INSS. A autarquia, fazendo bagunça contra o próprio patrimônio, mantinha o benefício por anos e anos, sem chamar para a perícia médica, que seria determinante para a alta, continuidade ou conversão em aposentadoria. Depois da bagunça feita, inventaram o arrastão pericial que jogou muitos incapacitados na miséria.

Com os desgovernos golpistas apostando na incompetência, a autarquia segue cometendo erros, principalmente a seu favor. A concessão de benefícios por ordem judicial sempre deu muito trabalho aos advogados dos trabalhadores, no conhecimento e na execução. A má vontade dos derrotados deve ser vencida para o cumprimento de julgados, mesmo que, para isso, o Poder Judiciário tenha que se valer de ameaças.

Agora o INSS apresenta, como se fosse uma boa ação merecedora de muitos aplausos, a implantação automática de benefícios assistenciais, de um salário mínimo, concedidos através de ações judiciais. Parece que querem uma desculpa para atrasar ainda mais a implantação de decisões judiciais sobre aposentadorias e pensões de maiores valores. Um tempo atrás a DATAPREV era um exemplo em informática; com a digitalização do Poder Judiciário, apressada pela pandemia, o cumprimento das ordens judiciais dentro dos prazos determinados não passa de obrigação, e muito fácil de ser cumprida.

Prova de que o nosso Estado de Direito foi violentado é um seguro social público que se vangloria de negar benefícios e, ao ser derrotado na Justiça, ainda age com mau pagador.