Sergio Pardal Freudenthal é advogado e professor universitário, especialista em Direito Previdenciário, atua há mais de três décadas em Sindicatos de Trabalhadores na Baixada Santista.

De Secretaria para Ministério

Abrindo espaço para as negociatas políticas, foi recriado (ou criado um simulacro) o Ministério do Trabalho e da Previdência.

Sem suscitar quaisquer ilusões, o atual desgoverno criou o Ministério do Trabalho e da Previdência, para acolher o deputado chuveiro, cedente do seu atual cargo para o “centrão”. Como o Ministro pretende ser candidato no ano que vem, o Ministro da Economia anunciou que, então, tudo voltará a ser uma insignificante Secretaria sob o seu comando.

Entre a pandemia e a balbúrdia governamental não se pode esperar nada de bom. Quando os Ministérios da Previdência e do Trabalho foram extintos, coroando o desmonte da legislação trabalhista e do sistema previdenciário, toda a estrutura passou a fazer parte do Ministério da Economia, através da Secretaria do Trabalho e da Previdência. O Social, da Previdência, começou a ser retirado com a EC 20, em 15/12/1998, ficando inexistente na Secretaria e no Ministério, até mesmo no nome.

A proposta de emenda constitucional que gerou a EC 103/2019 era muito clara: pretendia e privatização da Previdência Social brasileira, a chilenização do nosso Seguro Social, enquanto o próprio Chile tenta se livrar de tanta maldade. Não conseguiram uma vitória total, apesar das alterações que merecerão muito combate. E a pandemia demonstrou para todo o mundo a importância da Saúde Pública e da Assistência Social. Nossos gigantes são o SUS e o INSS.

Um Ministério do Trabalho e da Previdência Social, com um governo efetivamente democrático, seria até uma boa notícia. Os Direitos Trabalhista e Previdenciário fazem parte do Direito Social, diferentemente do que gostariam tecnocratas tributaristas.

A Previdência e a Assistência Social têm seus alicerces na autarquia denominada INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). Por mais que este advogado defenda trabalhadores contra desmandos do INSS, também defende, com unhas e dentes, a sua existência e fortalecimento enquanto instituição pública.

O Seguro Social dos trabalhadores é uma construção de quase cem anos, fruto muito mais de lutas do que de meras contribuições. Da mesma forma, a legislação trabalhista também decorre de muitos combates. As alegações do neoliberalismo, nas últimas décadas, se desfizeram com a pandemia e toda a miséria decorrente.

O Brasil enfrenta uma crise sanitária, econômica e política, com um governo negacionista e, por consequência, assassino. Após a pandemia, a sociedade vai precisar, e até exigir, políticas sociais que recuperem a dignidade de um povo. É por isso que o colunista tem repetido bastante: na luta pela retomada do Estado Democrático de Direito em nosso país, precisamos destacar o Direito Social.