Sergio Pardal Freudenthal é advogado e professor universitário, especialista em Direito Previdenciário, atua há mais de três décadas em Sindicatos de Trabalhadores na Baixada Santista.

A contrarreforma será necessária

A legislação trabalhista e previdenciária necessitará o que se chama contrarreforma. Será preciso recompor o arcabouço jurídico da Civilização.

O Direto Social vem sofrendo um grave desmonte, favorecendo o Capital na luta contra o Trabalho, e retirando a credibilidade de nosso sistema previdenciário, inclusive dos servidores públicos. Ocorre que o coronavírus desmontou as vitrines da grave exploração, precarizando ainda mais as condições de trabalho.
Com o golpe de 2016, tivemos o agravamento do desmonte do Direito Social, mas é importante observar que todo o processo neoliberal, desde a década de 1990, trouxe apenas resultados pífios para a economia nacional. Nosso país foi desindustrializado, com perdas econômica e sociais de difícil correção. Sem criação de empregos e sem desenvolvimento, apenas lucraram os piores patrões, apostando na burra acumulação de capital.
A Europa se prepara para as contrarreformas. Todo mundo sabe que a Civilização exige condições dignas para toda a humanidade. A verdadeira solidariedade é que estiver disposta na lei, e inclusive em acordos internacionais. O momento exige que não se gaste dinheiro em armas, e sim em vacinas, remédios e condições dignas de trabalho e de moradia.
O Brasil precisa reconstruir o Estado Democrático de Direito, com muita atenção ao Direito Social. O SUS e o INSS são os gigantes no combate à pandemia: Saúde Pública, no atendimento e na vacinação, e Previdência e Assistência Sociais, dando suporte à pequena, mas importante, economia. O colunista tem repetido bastante que os que têm muito, durante a grave crise, só querem acumular mais; quem gasta é apenas quem precisa. A manutenção da economia básica exige garantias, o que o auxílio-emergência não conseguiu dar.
O desemprego não foi resolvido com as “novas formas” de contrato de trabalho criadas pelas reformas. Desde a terceirização, passando pela “pejotização”, as relações foram é precarizadas, com trabalhos informais próximos à escravização. O mundo civilizado começa a acordar para a realidade, propondo a contrarreforma das suas legislações trabalhistas e previdenciárias.
A Previdência Social tem relação direta com os contratos formais de trabalho, sem as falcatruas como o tal trabalho intermitente. E as garantais legais do hipossuficiente são obrigações em uma sociedade civilizada. E, contra o vírus, é preciso Ciência e Solidariedade; será necessário recompor o Estado do Bem-Estar Social, com a redução mundial da desigualdade social; países mais ricos terão que estender a proteção sanitária e vacinal para os mais pobres, sob pena do enfrentamento eterno da pandemia.