Solidariedade não se faz com armas
Publicado na Tribuna Livre, em 28/03/2022.
A invasão russa da Ucrânia e toda a violência decorrente de uma guerra – qualquer uma que seja, na Europa, na Ásia ou na África – são inaceitáveis para um mundo que queremos civilizado. É preciso fazer crescer a importância da diplomacia em busca de soluções reais. Atualmente atravessamos duas grandes guerras mundiais: contra o coronavírus e contra o fascismo. E, na guerra Rússia X Ucrânia, a direita mafiosa contra a direita nazifascista, fica difícil ter lado. Nenhum dos dois representa a Civilização na luta contra a Barbárie.
Sem dúvida, a invasão russa é indefensável, mesmo que a História colecione mil razões. A “democracia ucraniana” também não merece muitos créditos, originária de um golpe de Estado e seguida por diversas violências. O movimento sindical conheceu muito bem a prática nazista ucraniana, da qual é bom exemplo o Massacre da Casa dos Sindicatos, na cidade de Odessa, em 2014, quando foram carbonizados 48 sindicalistas. Assim resultou o presidente outsider eleito após um golpe, que nos lembra aos brasileiros alguma coisa.
Porém, tudo isso não valida a invasão, mesmo levando em consideração a história recente, como o crescimento bélico da OTAN (deveria ter sido desmontada junto com o Pacto de Varsóvia) ameaçando as fronteiras russas. Ou mesmo a história mais antiga, passando pela União Soviética, pelo Império Czarista ou pela Rússia antiga, cuja primeira capital foi Kiev. A confusão é maior do que se imagina! Se continuarmos acreditando em dois lados, a Civilização ou a Barbárie, nenhum dos contendores representa o nosso lado; devemos lutar é pelo fim imediato da guerra.
Inclusive porque nos resta perguntar: alguém tem dúvidas sobre quem teria poder bélico para vencer esse conflito? O mundo inteiro sabe que a Ucrânia será massacrada, com seus dirigentes nazifascistas sacrificando seu povo, seja nas batalhas ou como refugiados. Os “amiguinhos”, EUA, Europa ou mesmo a OTAN, já anunciaram que não sacrificarão um pingo de sangue de seus exércitos. Assim, mais armas para a “resistência ucraniana” fará, além da fortuna da indústria bélica, o prolongamento do conflito e o adiamento do certo revés ucraniano, com maiores perdas econômicas para toda a humanidade e, especialmente e de forma vergonhosa, com perdas humanas monumentais. Fosse uma luta de jiu-jitsu, qualquer professor aconselharia a Ucrânia a bater os três tapinhas no braço da Rússia.
Solidariedade de verdade será exigir o fim imediato das hostilidades e ajudar a reconstruir o que foi devastado. Fornecer mais armas apenas agrava as raivas e desavenças, prolongando uma guerra que, com todas as sanções econômicas, certamente prejudicará a civilização em todo o planeta. Para não dizer da hipocrisia de bem receber os refugiados, mas apenas os brancos e de olhos claros.
Uma nova divisão do mundo, por exemplo entre russos e estadunidenses, interessa somente aos que lucram com a maldade. Espero que não representem nem uma ínfima parte da humanidade. A defesa da civilização passa pelo fim da guerra, em condições tais que, ao invés de aumentar a disputa imperialista dos que nunca perdem nada, possam recuperar relações dignas entre as nações, estabelecendo cooperações que derrotem a insistente pandemia que continua nos matando.