Sergio Pardal Freudenthal é advogado e professor universitário, especialista em Direito Previdenciário, atua há mais de três décadas em Sindicatos de Trabalhadores na Baixada Santista.

Solidariedade não se faz com armas

Publicado na Tribuna Livre, em 28/03/2022.

A invasão russa da Ucrânia e toda a violência decorrente de uma guerra – qualquer uma que seja, na Europa, na Ásia ou na África – são inaceitáveis para um mundo que queremos civilizado. É preciso fazer crescer a importância da diplomacia em busca de soluções reais. Atualmente atravessamos duas grandes guerras mundiais: contra o coronavírus e contra o fascismo. E, na guerra Rússia X Ucrânia, a direita mafiosa contra a direita nazifascista, fica difícil ter lado. Nenhum dos dois representa a Civilização na luta contra a Barbárie.
Sem dúvida, a invasão russa é indefensável, mesmo que a História colecione mil razões. A “democracia ucraniana” também não merece muitos créditos, originária de um golpe de Estado e seguida por diversas violências. O movimento sindical conheceu muito bem a prática nazista ucraniana, da qual é bom exemplo o Massacre da Casa dos Sindicatos, na cidade de Odessa, em 2014, quando foram carbonizados 48 sindicalistas. Assim resultou o presidente outsider eleito após um golpe, que nos lembra aos brasileiros alguma coisa.
Porém, tudo isso não valida a invasão, mesmo levando em consideração a história recente, como o crescimento bélico da OTAN (deveria ter sido desmontada junto com o Pacto de Varsóvia) ameaçando as fronteiras russas. Ou mesmo a história mais antiga, passando pela União Soviética, pelo Império Czarista ou pela Rússia antiga, cuja primeira capital foi Kiev. A confusão é maior do que se imagina! Se continuarmos acreditando em dois lados, a Civilização ou a Barbárie, nenhum dos contendores representa o nosso lado; devemos lutar é pelo fim imediato da guerra.
Inclusive porque nos resta perguntar: alguém tem dúvidas sobre quem teria poder bélico para vencer esse conflito? O mundo inteiro sabe que a Ucrânia será massacrada, com seus dirigentes nazifascistas sacrificando seu povo, seja nas batalhas ou como refugiados. Os “amiguinhos”, EUA, Europa ou mesmo a OTAN, já anunciaram que não sacrificarão um pingo de sangue de seus exércitos. Assim, mais armas para a “resistência ucraniana” fará, além da fortuna da indústria bélica, o prolongamento do conflito e o adiamento do certo revés ucraniano, com maiores perdas econômicas para toda a humanidade e, especialmente e de forma vergonhosa, com perdas humanas monumentais. Fosse uma luta de jiu-jitsu, qualquer professor aconselharia a Ucrânia a bater os três tapinhas no braço da Rússia.
Solidariedade de verdade será exigir o fim imediato das hostilidades e ajudar a reconstruir o que foi devastado. Fornecer mais armas apenas agrava as raivas e desavenças, prolongando uma guerra que, com todas as sanções econômicas, certamente prejudicará a civilização em todo o planeta. Para não dizer da hipocrisia de bem receber os refugiados, mas apenas os brancos e de olhos claros.
Uma nova divisão do mundo, por exemplo entre russos e estadunidenses, interessa somente aos que lucram com a maldade. Espero que não representem nem uma ínfima parte da humanidade. A defesa da civilização passa pelo fim da guerra, em condições tais que, ao invés de aumentar a disputa imperialista dos que nunca perdem nada, possam recuperar relações dignas entre as nações, estabelecendo cooperações que derrotem a insistente pandemia que continua nos matando.