Política não é futebol nem religião
Publicado na Tribuna Livre em 20/09/2022.
Sou corinthiano, com “th”, desde que nasci (papai também é). E as únicas pessoas a quem tentei convencer que bom time é o Corinthians foram minhas filhas, com sucesso, e meu neto, mas aí falhei. Não é possível sair por aí convertendo santistas, palmeirenses ou são-paulinos. E não existem explicações científicas para o coração corinthiano.
Nas religiões as coisas ficam mais complicadas, com as tentativas, de todos os lados, de converter os infiéis. Lembrando que ciência exige provas e religião apenas fé, devemos abominar qualquer tipo de violência, mentiras e interesses escusos que possam acontecer nas “evangelizações” excessivas. Porém, na política, absolutamente diferente do futebol e das religiões, a ciência é necessária; e os seus resultados são a sociedade organizada de forma justa e a civilização. Ou não.
A fome, a miséria crescente, três quartos de milhão de mortos por uma pandemia, são resultado das políticas aplicadas desde o golpe de 2016, e especialmente no desgoverno que termina este ano. A política que se faz no Parlamento, por exemplo, deveria sempre preservar o debate civilizado, por mais que as divergências políticas e ideológicas sejam graves.
E aí que entra a tal da democracia. Sempre é bom entender que ideologia não é por si só coisa ruim. Duro é quando deputado eleito por um partido socialista não sabe o que é ideologia. Podem acreditar: existem ideologias democráticas. Diversamente do fascismo, inclusive aquele denominado “de novo tipo”, de mãos dadas com o neoliberalismo, que em três décadas retirou direitos dos trabalhadores, produzindo um gravíssimo retrocesso econômico e o ressurgimento da direita selvagem. A aposta fascista – na ignorância, no medo e no ódio, com toda a violência suscitada – está bastante presente nas eleições atuais.
Defendem a ignorância, “a faculdade é para poucos”, como se representasse um alívio, talvez espiritual, no esforço para boa vida de falsos profetas. Dessa ignorância fomentam o medo, exatamente o medo do desconhecido, talvez do satanás. E, para responder a esse medo, apostam no ódio, na violência, com atos individuais medonhos, chegando a homicídios. Imaginem o que pode acontecer se um grupo, talvez grande, resolver quebrar a vitrine das lojas dos judeus, batendo e matando quem eles acharem que é inimigo.
A Constituição Cidadã, de 1988, fortalecendo o INSS e criando o SUS – nossos gigantes na luta contra o covid19, objetos da boa inveja de países mais ricos –, foi fruto de combates ideológicos, rompendo com os tempos de arbítrio. Devemos escolher nossas ideologias. Inclusivas ou excludentes?
Corinthiano nunca deixarei de ser; a política sempre exige mudanças. As eleições deste ano são sim polarizadas, a barbárie ou a civilização. Entre os adversários de outrora, mesmo com os mais fortes debates, havia respeito. Acredito que o nosso grande problema foi não dar o devido valor à História. País em que se elege presidente quem glorifica a ditadura militar pelas torturas e assassinatos passará vergonha histórica. Em outros países da América Latina, nem em governos de direita se faz referências favoráveis aos sanguinários ditadores que lá comandaram.
Política é coisa séria, ideologias mudam, avançam em busca da melhor sociedade, inclusive na composição entre antigos adversários, para conter os avanços do fascismo e reconstruir o nosso Estado Democrático de Direito. Ideologia, eu quero uma pra viver, e que seja inclusiva.