Sergio Pardal Freudenthal é advogado e professor universitário, especialista em Direito Previdenciário, atua há mais de três décadas em Sindicatos de Trabalhadores na Baixada Santista.

Recuperar a Constituição Cidadã

A história da nossa Seguridade Social começa em 21 de janeiro de 1923, com a Lei Elói Chaves, com seu ponto mais alto em 05 de outubro de 1988, promulgação da Constituição Cidadã.

Por equívoco ou más intenções, muita gente andou clamando por uma Constituinte, como se a nossa Carta Magna estivesse defeituosa. Defeitos mesmo ocorreram com várias emendas constitucionais. Agora, com a recuperação do Estado Democrático de Direito, precisamos é defender a Constituição Cidadã de 1988, com todas as suas garantias. Importante lembrar que o documento de 1988 foi uma resposta aos 21 anos de arbítrio da ditadura militar.
Na área em que este advogado atua, os avanços foram memoráveis. Em seu artigo 194, a Constituição apresentou a Seguridade Social, assegurando aos cidadãos saúde, previdência e assistência social. E, para recuperar a credibilidade do sistema previdenciário foram dispostas garantias como a correção monetária de todos as contribuições utilizadas para o cálculo dos benefícios e o reajuste na busca de manter o valor real, o poder aquisitivo de aposentados e pensionistas.
A formação da legislação está sempre diretamente ligada à história que se desenvolve. Assim, em 1988 respondemos aos desmandos da ditadura. E, com o fim da Guerra Fria, na década de 1990, começa a implantação do neoliberalismo, com a precarização das relações entre capital e trabalho, desfazendo as regras da Civilização, as garantias de dignidade para todo cidadão.
A Constituição Cidadã de 1988, com muitos artigos, segundo alguns constitucionalistas, deve ser recuperada. As três décadas neoliberais alteraram bastante a Carta Magna, mas sem perder suas características democráticas.
Uma Constituinte convocada em momentos turbulentos como os atuais poderia apenas piorar a legislação.
A pandemia demonstrou ao mundo todo as necessidades da Civilização. Apenas a Ciência e a Solidariedade salvam a humanidade de sua própria destruição. Assim, começam as contrarreformas no Direito Social, em especial nas relações entre capital e trabalho e nos sistemas previdenciários e assistenciais.
Com a vitória da Civilização contra a Barbárie na batalha federal, precisamos comprovar quais são as suas qualidades. Temos que demonstrar que são objetivos importantes para toda a sociedade a redução nas desigualdades sociais, a eliminação da fome e da miséria. Defender a Constituição Cidadã e sua correta aplicação será uma das tarefas dos democratas durante o governo de esperança que está se formando.