Sergio Pardal Freudenthal é advogado e professor universitário, especialista em Direito Previdenciário, atua há mais de três décadas em Sindicatos de Trabalhadores na Baixada Santista.

Santos no futuro

Publicado na Tribuna Livre em 13/04/2023.

Outro dia, andando rumo ao Gonzaga, ao atravessar o Canal 3, parei junto à faixa de pedestres e vi um ônibus vindo do Centro. Um único ônibus, e atrás um sem-número de automóveis, a maioria apenas com seu motorista; uma fila de carros até onde a vista alcança. Vinham em fila única, atrás do ônibus, já que no lado esquerdo da pista há outra fila de automóveis, dessa vez estacionados, parados e contribuindo bastante para a lentidão do trânsito.
Imaginando o futuro, vislumbrei o Canal 3 sem qualquer carro estacionado. Conto vinte ônibus, todos elétricos e silenciosos, e não mais que três automóveis, dois dos quais com o luminoso táxi em suas capotas. Por cima do canal, mas sem tapá-lo, destacada através de uma estrutura moderna, uma ciclovia, larga e livre. Sigo pela calçada da rua Alamir Martins, olhando para cima e vendo apenas pássaros e pipas, empinadas por felizes crianças. Nenhum fio mais atravessa os céus da nossa cidade. Postes, apenas para iluminação e semáforos, independentes, sem qualquer amarração aparente.
O comércio do Gonzaga sem qualquer loja fechada e sem pessoas vivendo em situação de rua. Posso imaginar as ruas da nossa cidade com total acessibilidade, calçadas largas e poucos carros, com a redução absoluta da desigualdade social, o porto, indústrias e comércios recompostos e crescendo.
Sempre é bom sonhar, mesmo que imaginemos o nosso passeio para daqui a cinquenta anos. Pouquíssimos carros na rua, o silêncio do transporte elétrico, as calçadas largas e confortáveis para as pessoas, o comércio ocupando devidamente o seu lugar, em empregos e negócios.
Bicicletas para todo lado, turismo, seja de temporada, de negócios ou histórico, eventos culturais o tempo todo, muito samba e capoeira honrando nossa brasilidade, universidades fervilhando com jovens e ciência. E, dessa forma, se desenvolvendo toda a Baixada Santista e Litoral Paulista, ilhas e continente. Assim seria a desejada Santos do futuro.
A chuva do princípio de outono me alcançou voltando pra casa. O Canal 3, com o trânsito totalmente parado, começa a encher, ameaçando vazar se a chuva forte coincidir com a subida da maré. Aí o pensamento começa a girar ao contrário. Se a humanidade se autodestruir, como é o que parece que pretende, como ficaria Santos em cinquenta anos? Sem a manutenção, a cidade se desmancha, a areia entope todos os canais, o asfalto das ruas se desfaz, e as construções vão ruir. Todos os veículos parados, ocupados pela vegetação possível e por animais. O mangue se recompõe, a civilização já destruída e ainda destruindo, formando sambaquis, com pedaços de tijolos como se fossem conchas, compondo com nossos cadáveres.
Quase idoso, mas bem conservado, ainda espero participar de um bom futuro. Quero ver a Civilização vencendo definitivamente a Barbárie, com gente feliz e satisfeita em toda a cidade de Santos e seus arredores, representando um Brasil de todos.