Paz, Amizade e Solidariedade
Publicado na Tribuna Livre em 31/12/2023.
1985 foi o Ano Internacional da Juventude (bons tempos), e a Federação Mundial da Juventude Democrática (FMJD) realizou em Moscou, capital da União Soviética (URSS), o XII Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes, com o lema Paz, Amizade e Solidariedade entre os Povos.
Por aquelas épocas, este escrevinhador tinha residência e escritório em uma casa com amplo quintal, e duas filhas em idade de mais brincar. Ainda jovem e entusiasmado, tivemos três cachorras exemplares. A primeira, viralatinhas pequena, recebeu o nome Mir, paz em russo. Como a danada não falava russo, não era muito pacífica. A segunda, uma pastora alemã, chamamos Solidariedad entre los Pueblos. Acontece que cachorro só atende com nome pequeno, então o apelido ficou Sol. De qualquer forma, era muito solidária, acompanhava os acontecimentos com as crianças e queria sempre ajudar e socorrer. A terceira se chamava Amizade, para completar o lema da Juventude mundial. E, realmente ela representava a amizade. Era grande, a maior de todas, cinza e capa preta, mas, para honrar o nome, quando algum amigo chegava, ela ia cercando, até o momento que fosse possível, e pulava (sem encostar as patas, para não sujar a visita) dando-lhe uma bela lambida no rosto.
Na época, os campos democráticos cresciam, e se afastava a possibilidade de uma nova guerra mundial, atômica. Da mesma forma que o fim da Segunda Guerra suscitou o Estado do Bem-Estar Social, o então muito próximo encerramento da Guerra Fria, nos fazia acreditar na Paz Mundial. Acontece que, muito provavelmente, tempos bons não voltam mais.
Podemos procurar e fazer algo parecido, com o correto estudo e uso das tecnologias deste novo século. O primeiro quarto dele, com a pandemia, a fome e graves guerras, como a Ucrânia e o Oriente Médio, alcançando o vergonhoso massacre palestino, não rendeu muitas coisas boas; e a resposta exige ciência e democracia.
Quem acreditou que, após as Guerras Mundiais e as derrotas das ditaduras na América Latina, a Paz, a Amizade e a Solidariedade entre os Povos seriam os determinantes nas relações mundiais, infelizmente estava muito enganado.
O ano que se inicia, 2024, ainda será de combate ao renascido fascismo. E não se enganem com lorotas como “anarcocapitalismo” ou qualquer vantagem no “ultraneoliberalismo”. São fascistas que almejam a destruição do Estado que conhecemos, para a implantação de um poder autoritário. Por isso, se pintam, nas questões comportamentais, como conservadores ou não, de acordo com a plateia. Utilizam-se especialmente de religiões, apostando na grande mentira que se denomina “meritocracia”. Sem condições de dignidade, saúde, educação, moradia e tudo o mais, não existem méritos.
Conforme afirmei muitas vezes, o fascismo se utiliza de três pregações na seguinte ordem: fomentam a ignorância, como se conhecimento demais causasse graves problemas, tensões e revoltas; depois, apostam no medo, especialmente o temor daquilo que não conhecemos; e, por fim, geram o ódio, ódio mortal contra o que causa medo. Daí para a valentia dos covardes, tipo quinze batem em um, ou quem tem revólver manda, é um passo rápido, culminando, por exemplo, com as arruaças golpistas de 8 de janeiro passado.
Os que desejam a democracia, seja conservadora ou progressista, têm a obrigação de combater as propostas autoritárias, e, para tanto, será preciso reduzir drasticamente a fome, a miséria e a desigualdade social. Que 2024 seja dedicado à construção e defesa da Democracia.