Sergio Pardal Freudenthal é advogado e professor universitário, especialista em Direito Previdenciário, atua há mais de três décadas em Sindicatos de Trabalhadores na Baixada Santista.

A Capoeira é um modo de ver a vida

Defendo a Capoeira por sua brasilidade e, especialmente, enquanto instrumento de inserção social para os fragilizados, econômica ou fisicamente. Todo mundo, mesmo que nem me conheça, pode...

Defendo a Capoeira por sua brasilidade e, especialmente, enquanto instrumento de inserção social para os fragilizados, econômica ou fisicamente. Todo mundo, mesmo que nem me conheça, pode imaginar a minha posição política. Sem significar que todo capoeirista – ou simplesmente capoeira, como prefiro – seja de esquerda.
Estou dizendo no título que Capoeira é filosofia, um modo de ver a vida, sem ser ideologia. É um instrumento que pode ser utilizado para o bem ou para o mal. E, ainda por cima, sempre divergindo dos que a classificam como arte marcial, destaco que ninguém luta capoeira, joga-se capoeira, e na roda formada pelos amigos. E quando você convida alguém da roda para jogar, provavelmente é um bom parceiro, aquele com quem você mais se diverte no jogo. É claro que existem rodas de capoeira que podem ser um tanto mais arriscadas, porém, cada um tem que saber em que roda pode jogar.
Nem sou um capoeira de alto cordão, mas, como disse em artigo publicado nesta mesma coluna em 11/02/2021, continuo um aluno apaixonado.
A Capoeira é um patrimônio cultural brasileiro, legítimo representante da combativa africanidade do nosso povo, um instrumento de luta, musical e histórico. Escravos fugidos eram imbatíveis na capoeira, no mato baixo, e a malandragem, um século atrás, utilizava a meia lua de compasso com a navalha nos dedos do pé. Hoje a Capoeira ocupa o lugar que merece na cultura, no esporte e na cidadania. Encontra-se nas escolas e academias, além de sua atuação na inserção dos que mais precisam, seja do ponto de vista econômico ou físico, espalhando não apenas os movimentos de capoeira, mas também o que representam.
Exemplo da filosofia capoeira é a ginga, o gingado, passos da dança em que se descansa e se imagina qual é o movimento pretendido, pelo jogador ou pelo parceiro. Como bem diz a música, a capoeira “é defesa e ataque, é ginga no corpo, é malandragem”. Logo de cara, a ginga exige o peito empolado, os ombros para trás, espantando qualquer medo que o capoeira possa sentir. Ao mesmo tempo, arqueia-se levemente os joelhos, demonstrando a humildade de quem sabe jogar. A dança se faz ao ritmo da música, focando o parceiro.
Enquanto se está jogando, os olhos não podem se desviar do parceiro, nem mesmo no movimento chamado “A-Ú”, de pé e de cabeça pra baixo, comum ao entrar na roda.
Para o gingado, são os dois pés paralelos e com alguma distância entre eles, em frente ao parceiro do jogo. Obedecendo ao ritmo e à velocidade da música, o pé que vai para trás, em posição de defesa, colocada no chão somente a metade frontal, com o calcanhar no ar, porque o retorno, com a devida impulsão, pode ser o ataque. O pé vai para trás, mas não atrás do pé de base, porque poderia desestabilizar e é preciso garantir o equilíbrio. Os braços, ao inverso do pé que recua, protegem o rosto.
Com destemor e humildade, foco no objetivo e sempre mantendo o equilíbrio, assim se aprende gingando.
Sempre é bom lembrar que para entrar na roda, somente ao comando do berimbau, e especialmente para sair, obedecendo novamente ao berimbau ou ao cansaço, os jogadores devem se cumprimentar com vontade, apertando as mãos e dando um abraço, olhos nos olhos, agradecendo o jogo que o parceiro proporcionou. Assim, com amor, se completam as lições da ginga. Ubuntu!