Capoeira é esporte e cultura
Capoeira Escola, metodologia Capoeira para Todos - publicado na Tribuna Livre, 17/02/2025
Santos e região têm importância histórica em duas atividades que esse eterno esportista (pelo menos de alma) muito admira: o surf e a capoeira. Nunca fui competitivo, a não ser no campo jurídico, e gosto desses esportes porque são técnicos, mas livres. Sem ondas muito grandes, ainda consigo ficar de pé na prancha, e na capoeira, após mais de trinta anos como aluno relapso, consegui me formar no ano passado.
O surf e a capoeira, antes atividades de “marginais”, atualmente são admirados pela sociedade, com lideranças históricas e muito respeitadas. Sobre o surf, nem preciso falar, tem muita gente capacitada em sua defesa, inclusive como forma de inclusão social – o surf adaptado.
A capoeira é representativa da brasilidade, e nossa região tem presença forte e variada em suas filosofias, como as escolas de Mestre Sombra, Mestre Bandeira e Mestre Corisco. No Emissário, tão importante para o surf, foi inaugurado recentemente um espaço para a capoeira.
Como já afirmei, a capoeira é instrumento de luta, musical e histórico. Para escravizados fugidos era a dança de bichos, pernadas que os faziam imbatíveis na capoeira, campo aberto. Para a malandragem de um século atrás, meia lua de compasso podia contar com a navalha nos dedos do pé. A partir das três últimas décadas do Século XX, formam-se academias, como Senzala, Movimentos, Capoeira Santista, Capitães da Areia e tantas outras, atingindo ampla diversidade. Queixada, armada, meia lua de compasso, “aú”, macaco e rabo de arraia, sem encostar no parceiro, fazem um bom jogo. Vale elencar as qualidades necessárias para um capoeira: destemor, humildade, foco, equilíbrio e amor, todas representadas na ginga e no jogo. Capoeira se joga, não se luta.
O surf adaptado promove inclusão dos mais necessitados e a Associação Capoeira Escola, com a metodologia Capoeira para Todos, participa ativamente da inserção social e econômica. O mestre de capoeira Márcio Rodrigues Santos, formado pelo Mestre Parada, é o responsável. Conquista espaço cada vez maior nas escolas e alcança sua função social. Do Lar das Moças Cegas ao GALP (Grupo de Apoio aos Lares Pobres), com efetiva participação nas universidades, Mestre Márcio Capoeira ainda convence idosos, como o escrevinhador, a seguir treinando.
A capoeira é cultura brasileira presente em todo o mundo, difundindo também a musicalidade do português, e a Baixada Santista tem bastante responsabilidade. A “metodologia para todos” da Capoeira Escola é inserção social, abrindo portas para os que tem dificuldades, exige o antirracismo e combate todos os preconceitos.
A Associação representativa da capoeira inclusiva vai completar trinta anos de atividades. O que muito falta, e a Prefeitura precisa dar atenção, é uma sede, onde possa se organizar e cada vez mais ensinar a saudação Ubuntu, “humanidade para com os outros”.