Sergio Pardal Freudenthal é advogado e professor universitário, especialista em Direito Previdenciário, atua há mais de três décadas em Sindicatos de Trabalhadores na Baixada Santista.

Perdemos Régis Savietto Frati

Homenagem ao santista Régis Savietto Frati, publicada na seção Tribuna Livre, em 17/02/2021.

Em 27 de janeiro último, faleceu Régis Savietto Frati, comunista desde criancinha, filho do líder portuário Rolando Frati. Atuou em defesa dos trabalhadores e por uma sociedade mais justa sua vida inteira. Um dos grandes quadros do PCB, Partido Comunista Brasileiro, participou ativamente da luta contra a ditadura, sendo obrigado a se exilar em Moscou nas últimas violências do regime militar, e retornando ao Brasil com a Anistia em 1979.

De uma Inteligência ímpar e com um humor sempre presente, muitas vezes bastante ácido, era um amigo fraterno em todas as horas. Enfrentou as dificuldades do arbítrio, participando da luta pela Redemocratização, assessorando o movimento sindical e atuando pela manutenção do Estado Democrático de Direito. Acompanhando notas de amigos e entidades, vale ressaltar sua coragem, capacidade de análise e ousadia, defendendo os mais necessitados e combatendo o arbítrio e a exploração.

Enfrentando um câncer, conjugado com grave cardiopatia, durante a pandemia, Régis se foi aos 68 anos de idade. Muitos artigos e emocionantes narrações sobre sua vida estão sendo publicados em boletins sindicais, jornais e nas redes sociais, mas – especialmente para este (já não tão) jovem militante – é muito importante destacar a Juventude Comunista. Atuava contra a ditadura, militando no Partidão, participando da organização que resultaria na reconstrução da UNE, na Anistia e no complexo e difícil encerramento da ditadura. Porém, entre 1974 e janeiro de 1976, a violência de uma polícia covarde e torturadora se abateu, principalmente, sobre o PCB, com a juventude representando muito da resistência que se formou.

Agora, neste ano de 2021, completamos a perda de três jovens quadros importantíssimos, amigos no combate à ditadura: José Montenegro de Lima, o Magrão, sequestrado e assassinado sob torturas em 1975, líder estudantil em sua plena juventude, presidiu a UNET, União Nacional dos Estudantes Técnicos; Jaime Rodrigues Estrella Júnior, o Cebola, dirigente do Centro dos Estudantes de Santos em 1968, foi preso e violentamente torturado em 1975, morrendo dez anos depois, vítima das sequelas da violência; e agora perdemos Régis Frati. Coloquei, no site www.pardaladvocacia.com.br, um pequeno ensaio, de minha autoria, publicado em 1987 pela Editora Forja, O Camarada Cebola, e Régis faz parte dele.

O Magrão, o Cebola e o Régis, nos princípios da década de 1970, construíam a Juventude Comunista, produzindo política para os jovens e defendendo o Partidão também nas atividades clandestinas. A violência de 1975, culminando com as mortes de Vladimir Herzog e de Manoel Fiel Filho, os atingiu. Assassinaram muitos quadros do Comitê Central do PCB, entre eles José Montenegro, torturaram violentamente militantes como o Cebola e o Régis foi obrigado a se manter no exílio.

Magrão morreu no combate, nos estertores da parte mais podre do regime, Cebola se foi quando a ditadura se findava através do Colégio Eleitoral, e perdemos Régis Frati justamente quando mais precisamos de esperanças e utopias. Novas gerações se formam e quem viveu a história, em qualquer perspectiva, deve relembrá-la para que a memória as salve da barbárie.